Sem essa de sexo frágil. Na Ceasa, um grupo de mulheres trabalha de sol a sol transportando caixas com hortifrútis. Um serviço puxado e braçal que respeita os limites de cada carregadora, mas exige força e determinação seis horas por dia, cinco dias por semana.
Estima-se que 5% dos carregadores sejam do sexo feminino, algo em torno de 30 mulheres. Não mais que isso. Mas, quando se juntam, parecem ter a força de um pelotão. Além de serem assíduas no trabalho, elas têm outra vantagem sobre os homens: são mais cuidadosas ao transportar os alimentos. Com elas no comando, as caixas não viram e o carrinho dificilmente cai.
Na quinta-feira, entre uma entrega e outra, Carol, Daiane, Maria, Leni, e outras “guerreiras”, falaram sobre os desafios da atividade que exercem sob o olhar incrédulo de colegas do sexo masculino. Eles perguntam: como podem carregar tanto peso? Elas respondem: por que não?
Residente em Canoas, Daiane Trindade, 25 anos, costuma transportar caixas de ameixas e pêssegos. Mãe de dois filhos, Daiane é vaidosa como toda a mulher. Antes de iniciar a jornada, ela se protege como pode dos efeitos nocivos do sol.
— Uso filtro, boné e tênis bom. As luvas protegem de queimaduras e são melhores para pegar as caixas — explicou Daiane.
Maria Neuza da Gama Carvalho, 50 anos, empurra carrinhos há 25. Nos últimos anos, porém, ganhou um refresco: só leva temperos como alecrim, manjericão e manjerona, o que torna a tarefa bem mais leve.
Já Leni de Aparecida Carvalho, 53 anos de idade e 18 de Ceasa, atua em duas frentes. É produtora de batata doce e carregadora. Quando acaba a colheita do vegetal, entra em cena a “puxadora de carrinhos”.
— Tenho problema na coluna e nos joelhos, mas preciso trabalhar. Às vezes, chego ao final do dia cansada, mas não dá para parar, né? Tem que levar na elegância — brinca Leni.
Mais nova desse grupo, Maria Carolina de Almeida Silveira, 24 anos, é taxativa: “Carrego de tudo, mas a banana é a mais pesada”. Carol, no entanto, nem pensa em parar.
As carregadoras são autônomas. Ganham de R$ 80 a R$ 150 por dia, em média. Algumas folgam de um a dois dias por semana, geralmente quando os produtores que contratam seus serviços não vêm a Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul. São dias de merecido descanso para quem está acostumada a transportar volumes suficientes para encharcar de suor muitos marmanjos por aí.