Imaginem vocês. Em 1976, o complexo da Ceasa completava seus primeiros dois anos e Renato Deinani, então com 16, já frequentava o Pavilhão dos Produtores na companhia do irmão para vender os hortifrútis cultivados pela família na Serra gaúcha. Hoje, quase meio século depois, aos 62, o “gringo” de Santa Lúcia do Piaí, como é conhecido, ainda encontra disposição para seguir na atividade enquanto tiver o que colher e saúde para viver.
— A gente vai levando. Mais adiante, quem sabe eu pare. Mas, agora, com saúde, continuamos lutando — ensina o produtor.
Duas vezes por semana, sempre às terças e quintas-feiras, ele parte de Caxias do Sul em direção a Porto Alegre para ocupar o Módulo 38-C no GNP (Galpão dos Não Permanentes, nome oficial do espaço dos produtores). Como a clientela é grande e ele chega cedo, 80% da produção é comercializada antes da abertura dos portões, às 13h, restando pequena quantidade de frutas e legumes para vender até as 17h. Nos dois dias ele traz cerca de 700 caixas abarrotadas de beterrabas, seu principal produto, abobrinhas italianas e repolhos roxo e verde, colhidos na lavoura de 12 hectares, além de boa quantidade de caquis fuyu e chocolate do pomar. Em poucas horas, com o trabalho de uma ajudante e de dois carregadores, as caixas voltam vazias para o caminhão.
— Quando chego aqui, as compras já estão praticamente agendadas. Meus clientes são donos de fruteiras, de supermercados e feirantes — revela o agricultor, que mantém a qualidade dos hortifrútis durante esse período de seca graças ao sistema de irrigação abastecido por três açudes da propriedade.
A família é seu esteio e motivo de orgulho. Renato é casado com Odete Maria Bernardi Deinani e pai de três filhas: a professora Rosemari, a engenheira de produção, Roselaine, e a engenheira ambiental, Rosane, todas formadas com recursos obtidos com a venda de hortigranjeiros na Ceasa, essa grande vitrine para representantes da atividade primária formarem patrimônio e realizarem sonhos como o dele, que investiu na educação de suas herdeiras.
— Para nós que começamos do nada, ter pago as faculdades das filhas com o trabalho na agricultura e a possibilidade de vender os produtos na Ceasa são desejos realizados — frisou.
Fora da Central, Renato gosta de reunir a família em volta da mesa em churrascos dominicais no sítio. Também lhe apraz pescar jundiás e carpa-capim num dos açudes, além de jogar Quatrilho — jogo de cartas típico dos imigrantes italianos. Perguntado se não cansou de fazer o trajeto de quase três horas da Serra para a Capital, a bordo de seu caminhão por quase 50 anos, respondeu com uma brincadeira típica de agricultores nessa longa estrada da vida:
— O caminhão já sabe o caminho de cor.